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A meditação pode ser compreendida como uma prática cujo objetivo é silenciar a mente para “vivenciarmos plenamente” o presente. Na correria do dia a dia acabamos vivendo num estado de “piloto automático”. Passamos longos períodos em ações sucessivas motivadas por pensamentos aleatórios. De fato, permanecer consciente pode parecer uma tarefa simples num primeiro momento, porém distanciar-se da distração dos pensamentos pode ser bem mais difícil do que parece.
Atualmente a literatura ocidental focada na produtividade, sobretudo os livros de auto ajuda têm explorado bastante o mindfullness que consiste basicamente em realizar tarefas do dia a dia de forma presente e consciente. Entretanto, estar lúcido não nos impede de sofrer em função de fatores externos não controláveis que nos circundam, nem ter total controle dos nossos sentimentos, mas compreender com o nosso corpo e mente que os altos e baixos são inerentes à existência.
Apesar de a prática da meditação só ter encontrado espaço no ocidente com a “validação científica” trazida pela comprovação clínica de seus efeitos positivos no cérebro, tais ensinamentos vem sido transmitidos na Ásia pelo Budismo a mais de 5000 anos.
Em nossa reportagem, participamos de uma prática guiada de meditação conduzida pelo monje proficiênte em inglês e espanhol que tem o desejo de, com a quebra da barreira linguística, transmitir os conhecimentos acerca de práticas milenares trazidas da Índia e da China, mantidos pela tradição no arquipélogo.
O templo que fica localizado na cidade de Koshu, província de Yamanashi, possui tamanha beleza arquitetônica não rara aos templos espalhados por todo o país além da grande relevância histórica para a província.
O cômodo posterior à sala utilizada para a meditação tem uma vista para o belo jardim dos fundos, repleto de vegetação e pedras muito bem posicionadas, que compõem um cenário exuberante e harmônico.
Segundo o nosso monge e guia, o som do fluir das águas do lago ajuda a trazer à mente um estado de calmaria, ideal à prática da meditação.
A meditação praticada pelos monges, é realizada com os olhos relaxados, semi abertos, ligeiramente direcionados à um ponto específico no chão. Os participantes acomodan-se nos “zabuton” - uma espécie de almofada que serve de assento, neste caso, específico à prática da meditação, cuja parte posterior serve para apoiar o corpo ligeiramente elevado em relação às pernas que permanecem na posição chamada “posição de lótus”. Nesta posição é necessário dobrar ambas as pernas de modo que cada pé fique apoiado sobre a coxa da perna oposta.
Essa é a postura mais indicada à prática por ser a que fornece maior equilíbrio ao corpo, segundo os monges, porém, para aqueles que não estão acostumados e não tem a flexibilidade necessária, permanecer nesta posição, ainda que por poucos minutos, pode ser um grande desafio. Para aqueles que não se adequarem à posição de lótus, tem a “posição de meio lótus” na qual somente um dos pés fica apoiado sobre a coxa.
A posição de lóutus cuja imagem é fortemente vinculada à prática de meditação pode ser vista como uma obrigatóriedade. Porém, segundo nosso guia não se trata de determinada postura ou lugar, mas sim um estado de espírito. Existe uma concepção equivocada, porém amplamente aceita sobre a meditação de “não ter pensamentos” que, segundo o monge, poderia ser melhor compreendida como “aprender a nos distanciarmos de nossos pensamentos ”. Seria como observar um engarrafamento estando no meio dele atrasado para o trabalho em oposição à mesma observação utilizando binóculos do alto de um balão. A realidade observada continua, de fato, sendo a mesma, certo?
Além do caráter leve e descontraído do monje em suas explicações e analogias, o participante da meditação guiada tem a oportunidade de experimentar peculiaridades da cultura xintoísta. Na prática da qual participamos, por exemplo, há um momento no qual o monge caminha em uma linha perpendicular aos participantes segurando um bastão comprido de madeira. O sacerdote usa tal objeto para “desferir leves golpes” nas costas de quem o solicita com um sinal de reverência durante sua passagem (não chega a doer). Esta prática foi inserida com o objetivo de tornar o turista mais familiarizado com os sígnos da tradição milenar. Esta prática estaria relacionada originalmente à punição daqueles que se distraiam durante a meditação.
O início e fim da sessão são marcados com o tocar de um pequeno sino que atravessa harmoniosamente o amplo espaço do templo e ecoa no exuberante jardim ao fundo que mais parece uma pintura realista.
Existem várias histórias sobre figuras ilústres da antiguidade japonesa que não estão registradas em nenhum livro mas que circulam entre os monges nos templos. Diversos casos interessantíssimos envolvendo personalidades como Takeda Shingen, um dos mais poderosos guerreiros da antiguidade japonesa. Nesta mesma visita outro monge nos mostrou diversas instalações do templo e nos contou um pouco da história extra oficial do local. Fatos curiosos como a hipótese de que o templo teria sido usado como local estratégico para esconder armas e assim prevenir grandes danos em caso de um ataque surpresa à então denominada região de Kai.
O interior do Japão está repleto de história não contadas, de vivências transmitidas apenas na oralidade. Toda uma riqueza que só pode ser acessada pessoalmente, vista à olho nú, compreendida com o coração. Longe dos grandes centros, em lugares pacatos como as cidades e vilarejos de Yamanashi existe um Japão que ainda resiste à padronização em massa e que segue vagarosamente, belo e gracioso como uma flor lótus.
*Para a entrada no templo, é pedida uma colaboração de 300¥.
*Pela meditação guiada é pedida uma contribuição de 1000¥.
Ônibus partindo da estação JR Chuo Enzan.
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